Em sua fantástica obra literária “Éramos Felizes e Não Sabíamos”, o magistral Bernardo Coelho de Almeida abre uma de suas crônicas sob o título “O melhor homem do mundo”, fazendo uma verdadeira dissertação sobre o saudoso Henrique de La Rocque, uma das lendas da política do Maranhão, que foi deputado federal, senador e membro do Tribunal de Contas da União, além de ter exercido o cargo de presidente do extinto IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários), entre fevereiro de 1951 e novembro de 1953, dando seus primeiros passos na vida pública.
Tive um encontro inesquecível com essa liderança política, em 1980, exatamente no ano em que renunciou ao mandato de senador para assumir a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU). Foi na redação do JORNAL DO TOCANTINS, em Imperatriz, numa sufocante manhã de quinta-feira. Na véspera, Mauro Bezerra liga para Imperatriz, me dizendo que iríamos receber a ilustre visita e que era para fazer cobertura de suas atividades naquela cidade e em João Lisboa. Ele estava se despedindo da vida parlamentar e tinha que agradecer aos leitores e às lideranças políticas.
Deleguei a Iran de Jesus dos Passos, atualmente professor da UEMA, a entrevista. Depois, o levei para conhecer as instalações do matutino. Fiquei impressionado com a simplicidade dele, por conta de sua elevada estatura política e moral.
Embora tenha apoiado a Ditadura iniciada com o Golpe Militar de 31 de março de 1964, sua posição após a instauração do regime ditatorial foi um tanto inconstante. Começando pelo fato que foi o primeiro a defender políticos perseguidos que estavam procurando asilo nas embaixadas. Segundo o Jornal do Brasil (em 16 de agosto de 1977), quando o processo de reabertura democrática era debatido, La Rocque manifestou apoio à abertura sob comando de Ernesto Geisel colocando que: “um homem forte como o presidente Geisel, desde que conte com o apoio dos políticos, poderá formular um projeto de reformas constitucional que concilie direitos individuais e segurança do Estado”.
Da mesma forma, defendia que os banidos por motivos políticos que retornassem ao país poderiam ter suas penas diminuídas contando o tempo que tivessem passado no exterior.
Em sua crônica, Bernardo discorre sobre sua forte amizade e o compadrio com La Rocque, citando, inclusive, que o ajudou na sua eleição ao Senado, quando concorreu com Neiva Moreira. O escritor diz que aproveitou o fato de ser diretor da Rádio Difusora, para utilizar o sistema em benefício da campanha do compadre, levando Neiva Moreira a reclamar junto a Magno Bacelar a respeito da manobra política.
Bernardo o enche de elogios, discorre sobre suas qualidades como homem público, relatando inclusive que a antológica música romântica “A noite do meu bem”, teria sido composta pela cantora Dolores Durans em homenagem ao político maranhense.
Confesso que estive nervoso nesse encontro. Mas ele me deixou à vontade na conversa, em meio aos momentos em que lhe mostrava as instalações e o maquinário do jornal. Me disse que além de advogado, era jornalista e que tinha atuado, na juventude, em cobertura diária junto o Supremo Tribunal Federal (STF). Quem o acompanhava era o então vereador Justino, de Imperatriz.
Em dado momento, ele me convida para a posse dele no TCU.
-Gostaria que você participasse da cobertura de minha posse no TCU. Lhe mando as passagens de ida e volta e reservo o hotel. Para você e o fotógrafo-, que era o saudoso Silvan Alves.
Não pudemos ir, por questão de logística. O jornal estava em sua fase inicial e não havia a possibilidade de eu e o único fotógrafo passarmos dois dias fora da cidade. Mas o Sistema Difusora mandou uma equipe de São Luís e estampamos em manchete a posse dele.
Foi uma conversa extremamente enriquecedora, em que ele me revelou alguns episódios da vida dele como político, falou sobre sua família, de origem portuguesa e me disse que eu poderia lhe visitar em seu gabinete a qualquer momento quando fosse a Brasília.
Fiquei lisonjeado com a postura de Henrique de La Rocque, cuja memória o Maranhão consegue preservar, sendo ele nome de município, praças, avenidas, escolas, públicas e privadas e de um dos palácios do Governo. Sua atitude para comigo, um simples jornalista em início de carreira, foi como inspiração e me transformou em seu admirador.
La Rocque começou sua trajetória na política como suplente de deputado federal pelo Distrito Federal em 1954 pelo (PSP), Partido Social Progressista. Em outubro de 1958, enfim elegeu-se no cargo, dessa vez concorrendo pelo Maranhão. Conseguiu a reeleição em 1962.
Reelegeu-se deputado federal em 1966, ficando no cargo até 1974, quando se elegeu senador da República pelo Maranhão de, ficando no cargo de 1975 a 1982
Com o encerramento do bipartidarismo no Brasil, juntou-se ao Partido Democrático Social (PDS) em maio de 1980. No mesmo ano, passou a exercer também o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), nomeado pelo então presidente João Figueiredo. Ele nasceu em São Luís, em 8 de agosto de 1912 e faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de agosto 1982.
O título de “melhor homem do mundo”, não foi conferido a La Rocque pelo seu amigo e compadre Bernardo Almeida, e sim pela poderosa Leal Leal, cujo nome verdadeiro era Leoncie Léa Correia Leal, mas que sempre foi tratada por Leinha. Uma das primeiras assistentes sociais do pais, ela era braço direito e protegida de dona Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas e presidente da LBA.
Conhecedora dos bastidores de Brasília desde sua inauguração, Leal Leal, destacou ser Henrique de La Rocque o melhor homem do mundo, numa conversa com outro expoente da política nordestina, o então senador piauiense Petrônio Portela, como revela Bernardo em sua crônica.
Foi apenas um encontro, em que ficou a boa impressão e grande admiração.